sábado, 29 de dezembro de 2012

Pra te desvendar...

Ele escolheu não sentir. Simples assim, frio assim, como quem escolhe uma roupa de manhã. E ele sempre achou isso o máximo, certo de que era muito forte e que ser completamente racional era motivo pra medalhas. De longe eu pude ver ele atrapalhado entre os escudos, todo aquele teatro podia convencer muita gente, mas eu sempre soube que sentir não era uma opção e que tinha muito por baixo de toda aquela capa mal remendada. E tinha mesmo, uma pessoa linda, eu juro. Bem, bem escondida, trancada debaixo da cama, como aqueles monstros da infância. Acho triste, covarde e solitário. Fraqueza demais deixar uma pessoa te matar por dentro. Ele se via o herói de Tróia, eu via um guerreiro medroso abaixando a espada pra primeira bandida. E, por coincidência, teste ou algum tipo de missão, sou casa pra esse tipo de gente que se embaralha toda com essa coisa de sentir e acha mais prático ou cômodo se bloquear. E eu, toda atrapalhada por natureza, tenho que ficar ensinando, arrumando, resgatando, me bagunçando. Enfim, sou jogada no campo de batalha, sem aviso, sem nem que eu perceba. Só que, instintivamente, não sou do tipo que recua, meu ataque não é agressivo e isso, por incrível que pareça, assusta bem mais que uma estratégia friamente calculada ou uma fuga de mestre. Quem vive se escondendo atrás de uma máscara não suporta a ideia de alguém descrevendo e percebendo cada gesto por trás, tudo que é tão rigorosamente protegido e escondido. Tem gente que não quer ser resgatada e eu sou livre demais pra viver com alguém prisioneiro. Tecnicamente, não ganhei a batalha. Sinceramente, não fui eu que perdi.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A Morte da Esperança

No enterro vestia-se verde
Ainda esperavam que ela levantasse
E a terra foi sendo despejada
Gélida
Até que se enterrase por completo a esperança
E naquela terra
Plantaram uma flor
Mas ali não haveria de ter mais vida
Ali nunca mais nasceu nada

domingo, 21 de outubro de 2012

Justificativa


Vou-me embora pro Cabo Branco
Porque cansei do Rio Vermelho
Porque cansei da Amaralina
Porque quero ser sua menina
Vou-me embora pro Cabo Branco
Porque lá o mar é cielo
Porque lá o vento é brisa
Porque lá acolhe-me a vida
Vou-me embora pro Cabo Branco
Porque seus olhos azuis são como ímãs
Porque sem eles aqui é noite
Porque sem eles não enxergo um Salvador
Que não seja João Pessoa
Vou-me embora pro Cabo Branco
Porque amanhece em mim e anoitece em ti
Porque o sol e a lua serão início e fim
Porque...
Porque de tudo o que o Cabo Branco pode trazer
Quero a tranquilidade de poder ver
Todas as cores do mundo
Todas as cores dos seus olhos
Todas as cores que o Cabo Branco revela
De você e de mim

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Monalisa

Eu não sei se já vivi outros amores
Ou se já senti isso antes
Não lembro
Mas sei que a vida ganhou novas cores
Depois que seus olhos brilhantes
Na minha vida resolveram entrar
E meu sorriso de Monalisa
Pôde enfim mudar
De um sorriso amarelo
Misterioso
Sem graça
Pra um sorriso de felicidade estampada
Escrita com todas as letras
Pra quem quiser olhar
Lembro do seu beijo
Do seu perfume
Da textura da sua pele tocando a minha
E como numa tempestade
Tudo parece fora do lugar
Simplesmente porque você não está
Mas dentro do seu abraço eu me perco
E a calmaria pode se instalar
Fecho os olhos
Nem lembro de mim
Porque ali dentro está meu mundo
Inteiro
Protegido
Guardado entre seus braços
E de todos os abraços
Ah! Esses eu lembro!
O seu foi o melhor
O único onde eu pude me dissolver
Onde eu pude deixar a armadura cair
Onde eu pude de fato gostar de mim
Não é um anjo
(Ou talvez seja)
Mas nos seus braços eu crio asas
E sinto que posso seguir em frente
Tranquila
E sinto que você estará comigo
E só esse sentir já basta
Esse sentir é suficiente
Para que eu saiba
Que eu posso te empurrar
Que você não vai cair
Que eu posso te chamar pra longe
Que eu sei que você vai comigo
Não sei de onde vem tanta certeza
Talvez seja realmente um anjo
Talvez tenha vindo
Pra me tirar do chão
E me ensinar
Que eu também posso voar
E que se eu me perder
De vez no seu abraço
Justamente nesse dia
É que eu vou me encontrar